A Cidade Parou
“Stop.
A vida parou
Ou foi o automóvel?”
Carlos Drummond de Andrade – Alguma Poesia, 1930
Foi exatamente deste poema anti-futurista de Drummond que surgiu a ideia para o título deste blog. No entanto, aviso aos navegantes que não sou nem anti-futurista nem tampouco procurarei endemoniar a figura do automóvel, apenas acredito que a sua utilização em determinadas situações deva ser repensada.
A sensação de todos é a de que acidadeparou, engarrafou, mas qual é o significado disto?
Significa que, “ocorreu uma saturação, ou seja, que o volume de tráfego gerou uma demanda por espaço maior que a disponibilidade deste”[i].
E por falar em espaço, os principais espaços de circulação de pessoas e mercadorias são as vias[ii], mas, também, os pontos de parada, estações e terminais, assim como diversos outros espaços da cidade.
Cada meio de transporte em movimento, ou mesmo parado, consome um determinado espaço, e há realmente uma grande desigualdade de intensidade de consumo entre os diferentes modos, como podemos perceber no mosaico de fotografias abaixo.
A imagem não representa, de fato, o espaço que é consumido por cada uma das três formas de deslocamento, pois se trata de uma série de fotografias que registram pessoas e veículos parados e não em movimento. De qualquer forma, é uma excelente ferramenta para comparar a grande diferença de espaço que cada modo demanda.
Podemos dividir o espaço da mobilidade basicamente em duas categorias de uso: restrito e compartilhado. Um exemplo de uso restrito é o metrô, que não divide seu espaço de circulação com nenhum outro tipo de veículo. Por outro lado, grande parte das ruas de uma cidade tem o uso compartilhado por ônibus, automóveis, motos, bicicletas e pedestres.
A constante saturação de uma via compartilhada, o conhecido engarrafamento é apenas um dos sinais de que a convivência entre os distintos modos já não é mais possível. O senso comum faz pensar que a solução do conflito está na ampliação do espaço de circulação das vias existentes ou mesmo na construção indiscriminada de novas vias, quando, na verdade, em grande parte das vezes é possível resolver o problema apenas reorganizado a rede existente.
No próximo post discutirei um pouco sobre o conflito entre os meios de transporte público e privado nas ruas do Rio de Janeiro. Comentários são sempre bem vindos.
[ii] Detran RJ, “Uma via é, a superfície por onde transitam veículos, pessoas e animais, compreendendo a pista, a calçada, o acostamento, ilha e canteiro central”.
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