Preservação da Memória, Preservação da Vida

Achei que não seria capaz de escrever à altura... então fui buscar algo que sabia que tinha sido escrito..
Nos meus tempos de faculdade - de arquitetura - lembro de ter lido um texto de um professor, inesquecível, chamado Joca Serran, acho que publicado no Jornal do Brasil, onde ele falava sobre a importância da memória e de sua preservação, ou algo assim... 
Faz muito tempo... Não achei. 
Mas achei o texto abaixo que soluciona em parte minha agonia em ver uma cidade sendo dia após dia dilapidada em sua memória, no patrimônio de cada um que vive há anos numa mesma cidade...
Hoje uma amiga me perguntava sobre o 'valor' do Lido.. O Lido não tem nenhum 'valor' arquitetônico, mas o valor afetivo, o valor que cabe na memória de cada um que de alguma maneira tinha aquele canto guardado na memória. 
Vale lembrar que isso vem acontecendo em Niterói em uma rapidez absurda, e a cada canto que se deixe de passar por uns poucos meses, ao se retornar é possivel que seja incapaz de reconhecer.. Isso faz mal à saúde!
Posto alguns depoimentos que obtive hoje no Facebook, que, como não pedi autorização para publicar, coloco só as iniciais:

LPM: "Quando eu era criança, eu ia no Lido com meu pai, minha mãe e meu irmão pra comer filé de peixe com molho de camarão. Me lembro das mesas, das toalhas brancas e do prazer de sair com a família para comer coisa gostosa. O Lido vai ficar pra sempre no meu coração."
SLM: Que tristeza quando não vi o que tinha restado do Lido. No restaurante, ia sempre com meus avós paternos, meus pais e meus irmãos...Eram momentos muito gostosos em família....E aquela maionese de camarão que nunca encontrei igual....Pena, muita pena...A Niterói da minha infância está ficando só na minha memória...
MS: "Fiquei mais uma vez chocada qdo passei lá outro dia e vi que não restava mais nada." 

 
 Publicado em 17/02/10 às 09h00
  Preservação da Memória, Preservação da Vida
 
“If you know your history / Then you would know where you coming from / Then you wouldn´t have to ask me / Who the heck do I think I am…” Bob Marley
 
A História e sua ligação com a Memória e a Preservação Patrimonial podem ser encaradas, em um mundo tão conturbado e carente, como algo que deveria ser alvo de preocupação apenas quando as necessidades básicas – moradia, alimentação, saúde, saneamento básico e educação – já estivessem supridas.
 
A memória, matéria prima da história, é fluida, dinâmica, capaz de criar vínculos entre o passado e o presente e está em constante construção. O patrimônio depositado em museus, arquivos, bibliotecas e centros de memória tem a possibilidade potencial de ser vetor de evocação de memórias. Livros, coleções museológicas ou pessoais tais como cartas, fotografias e mesmo objetos inusitados, sem apelo por sua origem, material ou forma de produção são guardados como formas de registro, lembranças, fragmentos capazes de fazer ressurgir memórias próximas ou distantes. Portanto, a preservação de índices de memória é um direito tão vital quanto qualquer outra necessidade básica.
 
As recentes catástrofes ocorridas em nosso país, como em São Luís do Paraitinga e as mais dramáticas como conseqüência dos vários terremotos no Haiti são alguns exemplos que revelam que a cultura é o que pode fazer a diferença na recuperação de valores humanos. Além destas, inevitáveis, há as infames catástrofes provocadas pelo ser humano tais como os conflitos armados, a corrupção, a destruição de habitats naturais e os desastres tecnológicos cujos impactos provocam mortes, situações de abandono, desequilíbrio ecológico além de causar elevados prejuízos econômicos.
 
Nesses momentos, a preservação do patrimônio é invocada sempre que esperamos que a humanidade não repita os mesmos erros, buscando projetar um futuro que seja mais justo e sustentável para todas as formas de vida.
 
O Patrimônio Cultural é uma das manifestações de nosso ser e estar na vida. Seja ele material ou imaterial, dá sentido às nossas ações e permite que possamos refletir sobre quem somos, onde estamos e para onde desejamos seguir. O patrimônio é tão significativo que, ao ser retirado do seu local de origem por motivo de furto, roubo, vandalismo ou por ser atingido em situações extremas, as populações sentem sua perda como potencialização do grau da tragédia, principalmente quando há perda de vidas humanas, pois a coesão e a identidade do indivíduo na sociedade se perde.
 
Por isso, justifica-se o esforço de vários organismos nacionais e internacionais e das instituições de guarda, na preservação e restauração de acervos comprometidos, bem como o esforço no combate ao tráfico ilícito e ao salvamento de bens atingidos em situações de catástrofes. Essas ações podem significar a restituição de referenciais, o retorno da esperança, da dignidade e um facilitador nos processos de reconquista da autoestima e da reconstrução de identidades pessoais e coletivas das comunidades atingidas.
 
Por Marilúcia Bottallo, coordenadora do Centro de Memória Bunge

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

É a Ademi que pensa igual à Prefeitura ou a Prefeitura que pensa igual à Ademi?

Requalificando os desabafos

O urbanismo do pensamento único de Niterói