Lixo prejudica pesca na Praia de Itaipu, em Niterói
n'O Globo, com a colaboração da leitora Laura França publicada em 22/09/2011 às 19h07m
RIO - Em vez de peixe, lixo. É isso o que os pescadores da Praia de Itaipu, em Niterói, têm encontrado ao recolherem as redes lançadas ao mar, como mostra a leitora Laura França. O aumento de detritos na costa de Niterói nos últimos dois anos reduziu drasticamente o volume de pescado na região - cerca de 80%, segundo os pescadores. O prejuízo chega a R$ 700 por dia, de acordo com os trabalhadores.
A principal suspeita dos pescadores recai sobre as obras de dragagem do Porto do Rio, cujos detritos foram lançados a 20 quilômetros da costa niteroiense. Mas especialistas também apontam o aumento do poder aquisitivo da população e as correntes marítimas como fatores que contribuem para o avanço da poluição.
O procedimento realizado pela Companhia Docas com apoio do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) previa o lançamento de detritos em alto mar sob o monitoramento constante de um sistema desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Se o lixo fosse jogado a uma distância inferior aos 20 quilômetros previstos, a companhia seria avisada sobre a irregularidade, de acordo com o governo estadual. A dragagem, iniciada em 2009, terminou no início deste mês, segundo a Docas.
De acordo com a Associação Livre de Pescadores e Amigos de Itaipu (Alpai), é muita coincidência que o aumento do lixo tenha ocorrido junto ao início das obras, que têm o objetivo de aumentar o calado do porto para receber embarcações maiores.
- O despejo é feito em área aparentemente regular, mas as correntes marítimas têm trazido toneladas de lixo para a praia. Os pescadores ficam dias parados, limpando as redes. O prejuízo é grande - afirma Jorge Nunes de Souza, presidente da Alpai.
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O secretário estadual de Meio Ambiente, Carlos Minc, disse que não há indícios de que o lixo encontrado pelos pescadores seja originário das obras do porto. A Companhia Docas tem a mesma opinião.
- Acredito que seja lixo flutuante ou de embarcações clandestinas. Mas vamos reforçar a fiscalização com apoio da Capitania dos Portos e da Marinha - disse Minc.
Correntes marítimas e consumo também influenciam
O biólogo marinho Abílio Soares Gomes, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), não descarta a suspeita levantada pelos pescadores, mas aponta outros fatores naturais que podem estar relacionados ao crescimento no volume de lixo:
- As correntes marítimas, ventos e outros fatores climáticos podem trazer lixo flutuante de muito longe.
Já para o oceonógrafo David Zee, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o avanço do poder de consumo da população seria um dos grandes culpados, principalmente por conta da falta de noção dos cariocas sobre o descarte adequado do lixo.
- O volume de lixo marítimo tem aumentado no Rio. Precisamos nos antecipar aos problemas inerentes ao crescimento econômico. E a questão da poluição dos oceanos é uma delas - observa Zee.
Para dirimir todas as dúvidas, a Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro (Fiperj) prometeu formar uma comissão para analisar o fundo do mar de Itaipu e diagnosticar se o despejo de resíduos no local é irregular.
Este texto foi escrito com a ajuda de um leitor do Globo.
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