O Turismo vai Salvar Niterói.. Vai?!..


A reunião do COMPUR ontem sobre a Lei de Hotelaria, ou "Espaços de Hospedagem" conforme sugere seu maior entusiasta o presidente da NELTUR, foi muito esclarecedora para entender como funciona a lógica de governos descuidados e comprometidos com grupos e atividades de exploração, que vêm espoliando essa cidade sem piedade. Sob a conivência de parte de seus cidadãos, que só agora, ao experimentarem a violência, o desrespeito e a degradação acelerada, sob a máscara de progresso, ainda tímida e desnorteadamente despertam.
Foto junho2011
O eloqüente empresário José Haddad, secretário de turismo, presidente da NELTUR expõe sedutoramente um 'belíssimo' projeto de turismo para a cidade, e que tenta implantá-lo ainda que desarticulado das outras secretarias. Em sua visão a vocação da cidade para o turismo é clara. Também sua compreensão da variedade de modelos de hospedagem, como os Cama & Café, as Pousadas e Resorts, além dos grandes Hotéis, garante uma possibilidade real de desenvolvimento sustentável da atividade turística. É fácil concordar que devemos tratar dos espaços urbanos com uma mesma lógica de intervenção e muito menos com um único modelo de hospedagem, assim, para cada bairro, respeitando-se as suas características, é possível pensar de modo adequado o tipo de intervenção e de modalidade de hospedagem que irá funcionar melhor.
José Haddad
Infelizmente sua visão para o turismo só almeja de longe o que outros países hoje já atingiram, preservando o seu passado e adequando o futuro, compatibilizando-os e incentivando a sua sustentabilidade. Aparentemente, Haddad despreza os espaços antigos, vendo-os como empecilhos -  em suas palavras "lixo" - ao famigerado progresso. Parece bem intencionado, mas sua visão é estreita ou estreitada pelas suas condições de possibilidades, determinadas pela atuação de outras secretarias, que não cumprem suas funções, sob uma batuta caduca, de um prefeito ausente e subserviente aos poderes econômicos privados e que não valorizam nossa história, nossa memória e nossa dignidade.

 
De um ponto de vista profissional não há dúvida de que não existe política de turismo com desenvolvimento sustentável sem uma política de memória com extremo cuidado com o passado registrado, material e imaterialmente, nas tradições, costumes, prédios e monumentos da nossa experiência individual e coletiva. Isso se alinha com a fala do Professor e Arquiteto Wagner Morgan, que apresentou propostas de redesenho e requalificação dos espaços urbanos, com profunda atenção ao que já foi destruído, ao que já foi equivocadamente alterado e o que ainda existe e merece ser preservado.
Wagner Morgan
Sua explanação sobre o centro histórico de São Domingos, com muitas ilustrações e sugestões inteligentes para o salvamento desse patrimônio cultural da cidade foi realmente inspirador. No entanto algumas de suas sugestões, como uma intervenção pontual de torres com gabarito elevado, foram rejeitadas por parte da platéia que se preocupa com os impactos de trânsito e de aumento da densidade urbana.

Foto junho2011
Foto junho 2011
Foto jun2011

Uma coisa, no entanto, no decorrer das explicações e imagens - onde se libera o gabarito para trinta andares, onde não se faz pousadas, qual a vocação para o bairro tal e onde se constrói a praça - alguma coisa ali não parecia correta. Uma voz denuncia o amadorismo primário da proposta. Acusa a defasagem do Plano Diretor, de 1992, e que carece de revisão urgente, de acordo com indicações explícitas do Ministério das Cidades, sobretudo pelos remendos irresponsáveis que sofreu com a liberação de gabaritos em 2002 e as (in)adequações que sofreu em 2005, e outros golpes na surdina com alterações pontuais das leis para ajustar a cidade aos interesses de poderosos.

 E aí as coisas entraram em foco! A cidade deve assumir sua vocação turística assim nos estertores de um desgoverno que agonizante tenta se agarrar às últimas possibilidades de vender a cidade? E ainda usa para isso, um discurso que parece ter real interesse no desenvolvimento da cidade através da proposta de turismo? Antes de fazer isso, não é preciso definir democratica e modernamente as áreas de interesse social? Ou queremos que os trabalhadores mais pobres morem cada vez mais longe e demorem meio dia no transporte? Essas áreas de interesse social, devem ser definidas a partir de diagnósticos que devem ser realizados a partir da observação da vocação dos bairros, da sua arquitetura e história; deve ser feito um inventário de bens de interesse histórico, cultural e artístico e principalmente envolver a população nas suas expectativas e experiências.

Fazendo as coisas como estão sendo feitas, vamos acabar com mais elefantes brancos atravancando nossa vida cotidiana e espaços mal utilizados, que não falam com ninguém e pelos quais ninguém luta, e vamos seguir tentando retirar famílias centenárias de lugares como Fazendinha, no Sapê para implantar 'bairros modelos', cuja descrição dá até medo! O adensamento proposto no meio de área de preservação ambiental, sem nenhum compromisso nem com a permanência dos moradores, nem com a segurança, saúde e educação já caóticas! Os transportes estão em petição de miséria e os engarrafamentos monstruosos.

Isso tudo já seria o suficiente para dar um basta naquela situação, não fosse a lembrança mais grave que aponta para a permanência de centenas de desabrigados desde 2010 que ainda estão em condições sub-humanas no 3º BI. Essa é a marca do desgoverno, do amadorismo, do oportunismo eleitoreiro que planta propagandas por todo lado sem de fato oferecer tais serviços. Será que o Ministério Público acata um processo baseado no código de defesa do consumidor? PROPAGANDA ENGANOSA!!!

Mas uma pena mesmo é ver que ali acorreram muito poucos cidadãos e isso quase nos levou ao silêncio e a repensar a permanência nessa cidade. Depois de toda a divulgação e apelo, depois de toda a mobilização, as pessoas simplesmente não compareceram e com isso não encaram os problemas e não percebem que deixam o espaço aberto para a venda dessa cidade! Com a palavra o cidadão.

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